terça-feira, 31 de março de 2015

Kroll x PT: "Notória Especialização" do Projeto Tóquio ou Retaliação da Operação Chacal?


Quais as verdadeiras razões para o Congresso Nacional contratar justamente a Kroll Associates em tempo record, sem licitação, por mais de R$ 1 milhão, para realizar investigações da CPI da Petrobrás?! 


Razões “legais” da contratação da Kroll pelo Congresso Nacional

Considerando que o escopo da investigação seriam ativos frutos de crimes financeiros como corrupção, sonegação fiscal e “lavagem” de dinheiro supostamente praticados por diretores da estatal brasileiro de petróleo e políticos da situação, o Congresso Nacional corre o risco de ver nulo esse contrato ou ao menos ser questionada a legalidade da contratação da Kroll, por simples infração à lei de licitações. Se os parlamentares querem investigar fraude e corrupção, deveriam, eles próprios, ser os primeiros a cumprir a lei que criaram e realizar a contratação com absoluta transparência (leia-se licitação e concorrência pública).

Além da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e a Polícia Federal, órgão responsável pelo serviço de contrainteligência ou inteligência doméstica (adversários internos do Estado), muitas empresas nacionais e estrangeiras têm capacidade técnica para atender ao Congresso Nacional durante os trabalhos da CPI da Petrobrás.

A estadunidense Kroll Associates (www.kroll.com) e várias outras empresas de Consultoria de risco, Inteligência & Investigações corporativas são especializadas na localização de ativos desviados de fraudes, como a pioneira Pinkerton (www.pinkerton.com), a britânica Control Risks (www.control-risks.com), a israelense ICTS Protiviti (www.icts.com.br) e a brasileira Montax (www.montaxbrasil.com.br), que tenho orgulho de representar

Até a publicação do contrato celebrado entre a Kroll e o Congresso Nacional pela Controladoria-Geral da União por meio do Portal da Transparência (www.portaltransparencia.gov.br), presumimos que a concorrente estadunidense foi contratada sem licitação devido a sua “notória especialização” ou rede de filiais e contatos no exterior. Para usar expressões da Lei nº 8.666/1993, poderá haver dispensa ou inexigibilidade de licitação ou ela será inexigível quando houver inviabilidade de competição, especialmente para a contratação de serviços técnicos profissionais especializados, de natureza singular, classificados taxativamente porém sem a exatidão da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) como I- estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos; II- pareceres, perícias e avaliações em geral; III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras; III- assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias; IV- fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços; V- patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas; VI- treinamento e aperfeiçoamento de pessoal; VII- restauração de obras de arte e bens de valor histórico, e “com profissionais ou empresas de notória especialização”.

Quais seriam as verdadeiras razões para a possível infração da lei de licitações e o desprestígio da concorrência no setor de Inteligência & Investigações corporativas?

No caso de serviços de Inteligência privada & Investigações corporativas, e na atual conjuntura política e econômica do País, seguem aquelas que julgamos ser as verdadeiras premissas das quais se baseiam as lideranças da casa do Povo para contratação da empresa estrangeira de Inteligência privada.

Razões técnicas e políticas da contratação da Kroll pelo Congresso Nacional

Em 2004, a sede da Kroll no Rio de Janeiro foi invadida pela Polícia Federal durante a Operação Chacal e seus diretores e funcionários presos e acusados do crime de divulgação de segredo por suposta “quebra” do sigilo telemático do então Ministro da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica, o falecido Luiz Gushiken, durante investigações corporativas.  

No caso da disputa pelo controle acionário da Brasil Telecom (BrT), de um lado estava a Kroll, pelo Banco Opportunity, e o ex-agente do Serviço de Informações e Segurança Democrática da Itália (SISDE), Giuliano Tavaroli, então diretor de segurança corporativa da Telecom Italia Mobile (TIM), e seu colega responsável pela segurança na América Latina, Angelo Jannone. 

A Petros, o fundo-de-pensão da Petrobrás, e a Oi, dos Jereissatis, também eram acionistas que disputavam o controle da Brasil Telecom (BrT). A Chacal deu origem a famosa Operação Satiagraha, com enfoque em Daniel Dantas. Entre 2002 e 2005, a Brasil Telecom (BrT) teria pago à Kroll mais de R$ 26 milhões para a execução do Projeto Tóquio, codinome que remete à ancestralidade do Ministro Luiz Gushiken (Rubens Valente em Operação Banqueiro, pág. 95).

O caso chamou a atenção da comunidade de Inteligência porque a Kroll é uma das mais respeitadas agências de Inteligência privada do mundo; técnicas legais e éticas de espionagem como Inteligência Competitiva (IC) com base em fontes abertas e fontes humanas de Inteligência são comumente usadas para a busca de provas (evidências) em litígios para aumentar as chances de sucesso em ações judiciais (Marcelo de Montalvão em INTELIGÊNCIA & INDÚSTRIA: Espionagem e Contraespionagem Corporativa - Capítulo 35 Inteligência Competitiva versus Espionagem corporativa - 2015).

O clássico de espionagem corporativa “entraria para a História” do Brasil não fosse ofuscado pelo escândalo do Mensalão (2005).

Kroll conhece melhor que ninguém as vulnerabilidades do PT e quer provar a ilegalidade das prisões de 2004

Luiz Gushiken havia sido sócio da Gushiken e Associados, empresa especializada em consultoria previdenciária. Como especialista em previdência, o então Ministro Luiz Gushiken passou a aconselhar seu amigo o Presidente Lula (foto) e indicar diretores de entidades fechadas de previdência complementar, os chamados fundos-de-pensão, com destaque para Wagner Pinheiro da Petros, fundo-de-pensão da Petrobrás. 

Para se ter uma ideia da riqueza dos fundos-de-pensão, eles são sócios majoritários (leia-se donos) de bancos públicos e estatais. O patrimônio da Petros, por exemplo, é de aproximadamente R$ 66 bilhões, praticamente metade do valor econômico de sua Patrocinadora, Petrobrás, que é de R$ 128,88 bilhões. 

Em 6 de dezembro de 2002, pouco antes de assumir o governo, Gushiken havia vendido sua empresa de consultoria para dois ex-empregados, Wanderley José de Freitas e Augusto Tadeu Ferrari, que passaram a chamá-la Globalprev, que por sua vez foi contratada pela Petros com dispensa de licitação. (Revista Veja, Edição nº 1.912, de 6 de julho de 2005).

A Oposição liderada pelo PSDB e parte do PMDB sabe que a Kroll tem experiência comprovada contra o PT resultado de investigações do Projeto Tóquio e teria comprometimento político decorrente do desejo de buscar a verdade dos fatos ocorridos em 2004. Naquela época, entre os colaboradores da Kroll que foram presos pela Polícia Federal estava Tiago Verdial, pessoa simpatissísima que conheci em 2001. O então Analista da Kroll havia trabalhado em um mesmo caso de contraespionagem corporativa no Rio de Janeiro do qual eu também havia sido consultado – alguns clientes preferem contratar mais de um fornecedor, para testá-los - e me confidenciou que meu codinome era “O Dr.”, devido a minha formação jurídica. 

Para a segurança institucional do Estado brasileiro e preservação de segredos comerciais das estatais, que não se confundem com o governo nem tampouco com partidos políticos, entendo arriscada a disposição de tantos segredos comerciais de empresa estratégica nas mãos de empresa estrangeira e em desprestígio da ABIN e Polícia Federal, tema para outro artigo. 

A Petros, fundo-de-pensão da Petrobrás, é suspeita de financiamento de campanhas

Informações da ação de sequestro de bens nº 0216037-04.2009.8.19.0001, da 2ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro , de autoria da Centrais Elétricas Belém S/A (CEBEL) contra a Petros e outras, bem como reportagem do jornal O Globo de 27 de novembro de 2014 intitulada “Polícia Federal investiga operações de fundos de pensão das estatais”, está em andamento investigação de fraude corporativa envolvendo a Petros e a seguradora J Malucelli Seguradora S/A. Em 2006, a Petros investiu mais de R$ 62 milhões no consórcio de fundos-de-investimentos para construção da Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Apertadinho em Vilhena – RO. A CEBEL emitiu títulos de crédito chamados “Cédulas de Crédito Bancário (CCBs)” em favor da Petros, que lucraria com os juros resultados da venda de energia elétrica. Mas o investimento não deu certo, nem deu lucro porque a barragem da hidrelétrica desmoronou em 9 de janeiro de 2008. Os prejuízos são quase incalculáveis. A J Malucelli foi a seguradora contratada, também, pelo Consórcio Construtor Vilhena, para Apólice de Responsabilidade Civil e Garantia de Performance em favor da CEBEL, para segurar os investidores do projeto Apertadinho, praxe do mercado. Essa Apólice costuma ser muito cara, razão pela qual foi contratado somente para garantia de 10% do Valor Econômico da barragem, erro de contratação no qual a Petros se arrependeu amargamente. Como se não bastasse, o Consórcio Construtor Vilhena deixou de pagar o prêmio do seguro em 2007. O seguro venceu antes do fim da construção e não foi renovado.

O que chama a atenção é o fato de a J Malucelli ter sido novamente contratada pela petros, para seguros garantia judiciais, em diversas ações judiciais espalhadas pelo País, apesar de essa seguradora ter ofertado apólice de quantia irrisória para cobrir eventuais perdas de projeto tão grande, e o que é pior, ter omitido de tão importante cliente acerca dos riscos corporativos antes e durante a execução do projeto Apertadinho, no caso a) da contratação, pelo Consórcio Construtor Vilhena, do qual a Petros era integrante, de apólice de seguro que cobria apenas 10% do Valor Econômico do projeto, bem como ao calar b) acerca da não renovação da apólice pelo consórcio em 2007 (!).

A omissão da J Malucelli acerca desses fatos revela ou fraude corporativa com indícios de corrupção ou grave conflito de interesses da seguradora e sua cliente “especial”, a Petros, que não foi alertada acerca do preço de cobertura da apólice e de sua não renovação. A seguradora J Malucelli não poderá alegar que “não sabia” que a Petros era investidor “pesado” do Consórcio Construtor Vilhena porque as seguradoras têm profissionais e softwares de análise de risco inerentes a questões de fraudes e conflitos de interesses. Petros e J Malucelli têm profissionais de compliance e mitigação de riscos que tinham o dever de alertas seus diretores acerca do risco do negócio.

Relatórios de Inteligência da Kroll produzidos em 2004 podem revelar esquemas de fraude e corrupção do PT tanto na Petrobrás quanto em seu fundo-de-pensão, a Petros. Não haveriam outras razões de “notória especialização”.

Porém, a ABIN e a Polícia Federal do Brasil, agências responsáveis respectivamente pela Inteligência (estrangeira) e Contrainteligência (doméstica), devem ser as primeiras instituições a analisar os relatórios da Kroll no Caso Petrobrás para, a partir deles, instaurar novas operações ou complementar os casos em andamento.


Marcelo Carvalho de Montalvão

Analista de Inteligência

sexta-feira, 27 de março de 2015

Analistas de inteligência de CIA e FBI ganham mais poder dentro das organizações

 

Chame de vingança dos nerds, ao estilo de Washington. O agente do FBI empunhando arma e o aventureiro agente secreto da CIA estão cada vez mais sendo requisitados a compartilhar seu poder, orçamento e até mesmo seu glamour em Hollywood com o humilde analista de inteligência preso a uma mesa.
À medida que as duas agências confrontam uma ameaça terrorista em constante evolução, ciberataques e outros desafios, ambas estão se reorganizando de formas que visam empoderar os analistas. Isso envolve o trabalho delicado de unir as culturas muito diferentes do agente com a malandragem das ruas e do analista cerebral, que lê despachos secretos, se debruça sobre comunicações interceptadas, absorve contas da mídia de notícias e digere tudo.
O maior desafio permanece no FBI, uma organização tradicional de manutenção da lei que tem tido dificuldades, desde os ataques terroristas de 2001, para se remodelar em uma agência de inteligência capaz de prevenir ataques e não apenas investigar crimes. Um relatório sobre o progresso do FBI, divulgado na quarta-feira, concluiu que apesar dos grandes avanços, o órgão precisa aumentar o papel dos analistas e lhes dedicar mais respeito e recursos.
Apesar das autoridades do órgão há muito exortarem a importância dos analistas de inteligência, o relatório pela Comissão de Análise do Papel do FBI no 11 de Setembro descobriu que a polícia federal dos EUA “ainda não os reconhece de modo suficiente como uma força de trabalho profissionalizada, com exigências distintas de investimento em treinamento e educação”. O diretor do FBI, James B. Comey, reconheceu o problema e disse que empoderar os analistas era uma de suas principais metas.
Na CIA, onde analistas têm um papel central desde sua fundação, eles há muito trabalhavam em grande parte separados dos “operativos”, que trabalham em campo no exterior recrutando agentes. Neste mês, John O. Brennan, o diretor da CIA, anunciou que analistas e operativos seriam combinados em 10 novos “centros de missão”, seguindo o modelo do Centro de Contraterrorismo da agência. Isso pode dar aos analistas maior influência no dia a dia nas operações.
As decisões mais recentes continuam na constante ampliação do papel dos analistas de inteligência. Até mesmo a cultura popular acompanha, com os analistas se tornando astros de filmes e séries de televisão recentes.
Em “A Hora Mais Escura”, o filme de 2012 que narra a caçada a Osama Bin Laden, a personagem central é uma analista da CIA chamada Maya, interpretada por Jessica Chastain. Diante dos musculosos e altamente armados membros dos SEALs da Marinha, que estão prestes a realizar uma incursão no Paquistão, a pequena Maya não é apenas um enfeite.
“Bin Laden está lá” ela diz com confiança aos SEALs. “E vocês vão matá-lo para mim.”
O fracasso em impedir os ataques do 11 de Setembro e o foco subsequente nas ameaças terroristas ajudaram e elevar o status dos analistas. O Centro Nacional de Contraterrorismo –que não deve ser confundido com o Centro de Contraterrorismo da CIA– foi criado depois do 11 de Setembro como um centro de análise para assegurar que cada fragmento de informação de ameaça seja combinado com outros dados para detectar tramas.
Outro fator é a explosão de dados em uma era de smartphones e internet, como ressaltaram os documentos da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) vazados por Edward J. Snowden. Apesar da NSA sempre ter sido uma operação movida por dados, outras agências agora precisam de seu próprio pessoal capacitado para ordenar e entender a enxurrada de informação, sem serem sobrecarregados por ela.
“Atualmente, quando há um lapso de inteligência, geralmente se deve a informação crucial ter sido perdida na avalanche de dados”, disse John E. McLaughlin, um ex-vice-diretor e diretor em exercício da CIA.
Ele disse que apesar dos analistas sempre terem sido valiosos na agência, eles ficaram por muito tempo segregados no Diretório de Inteligência, separados do Diretório de Operações, que realizava a espionagem. Por muitos anos, uma catraca e um posto de segurança no quartel-general da CIA, em Langley, Virgínia, separava os analistas dos agentes, ele disse.
Um analista de carreira, McLaughlin disse que alguns veteranos de operações “podem se sentir desconfortáveis” com a reorganização que os agrupará com os analistas, mas que ela faz sentido. “O papel do analista, que reune todas as peças, se tornou mais crítico, porque agora há mais peças”, ele disse.
Comey, o diretor do FBI, usou a analogia de um casamento arranjado para descrever o relacionamento entre agentes e analistas, que com frequência eram unidos, sem poderem opinar a respeito. Às vezes casamentos arranjados acabam com os casais vivendo felizes para sempre. Outras vezes, eles acabam dormindo em camas separadas.
Para desenvolver um melhor relacionamento, Comey está tentando fazer com que agentes e analistas “namorem” na Academia do FBI, onde agora é exigido que eles treinem e pratiquem trabalhar juntos. Comey disse que sua esperança é de que um analista de inteligência de carreira ascenda até os postos mais altos do FBI antes que se aposente.
Algumas pessoas que estudam inteligência e contraterrorismo juntos estão preocupadas que o pêndulo possa balançar longe demais. Os analistas de inteligência, disse Amy Zegart, uma acadêmica de Stanford que estuda inteligência, podem ficar absortos demais nas operações diárias e negligenciar o pensamento estratégico a respeito de ameaças que podem ocorrer daqui a anos.
Na CIA, ela disse, os analistas de contraterrorismo são “táticos demais”, focados no próximo alvo dos drones. Se o mesmo modelo for aplicado agora ao restante do trabalho da agência, outros analistas podem ser pegos pelas exigências de curto prazo, ela disse.
“Quem no governo americano pensará a respeito das ameaças a longo prazo?” ela perguntou. (Matt Apuzzo e Michael S. Schmidt contribuíram com a reportagem)
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Fonte: bol.com.br

quinta-feira, 19 de março de 2015

Ebook INTELIGÊNCIA & INDÚSTRIA: Espionagem e Contraespionagem Corporativa


capa.jpg - 335.24 Kb

Lesbianismo: Tão normal quanto antigo.
Novela assiste quem quiser e imita quem tem predisposição. Água da torneira tem flúor, muito mais devastador ao cérebro e a consciência (livre arbítrio) que qualquer forma de arte, por mais degenerada que julgamos ser.
Mais sobre operações psico-informativas no Ebook INTELIGÊNCIA & INDÚSTRIA: Espionagem e Contraespionagem Corporativa:

segunda-feira, 16 de março de 2015

SEGURANÇA x INSTABILIDADE POLÍTICA

                        

Diretor da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA-USA), JAMES R. CLAPPER, fez um alerta antecipado em fevereiro de 2015: "Instabilidade imprevisível é o "novo padrão de normalidade" [...] O ano de 2014 viu o maior índice de instabilidade política desde 1992 [...] Cerca de metade dos países atualmente estáveis ​​do mundo estão sob algum risco de instabilidade ao longo dos próximos dois anos".


Relatório Completo:

quinta-feira, 5 de março de 2015

Sun Tzu, o pai da espionagem

                    

Nos textos antigos do general Sun Tzu (século V a.C.), mais especificamente no capítulo XIII de sua obra A Arte da Guerra intitulado O emprego de espiões, encontramos verdadeiro manual de espionagem que, por sua técnica e objetividade, é considerado o primeiro tratado sobre a Atividade de Inteligência e de implementação de um sistema de coleta de informações por estadistas e comandantes-em-guerra.
É um capítulo breve, porém, importantíssimo, que merece ser transcrito na íntegra:

“Constituir um exército com 100 mil homens e fazê-lo percorrer grandes distâncias impõe grandes perdas ao povo e drena os recursos do Estado. A despesa diária deverá chegar a mil onças de prata. Haverá distúrbios internos e externos e homens cairão exaustos nas estradas. Mais de 700 mil famílias serão dificultadas em seu trabalho.
Exércitos adversários podem enfrentar-se durante anos, lutando pela vitória, que é decidida num só dia. Dessa forma, continuar na ignorância da condição do inimigo, apenas porque alguém se recusa a desembolsar uma centena de onças de prata em hornas e recompensas, é o cúmulo da desumanidade.
Quem age assim, não lidera homens, não serve de ajuda ao seu soberano, não é o artífice da vitória. O que possibilita ao soberano inteligente e ao bom general atacar, vencer e conquistar coisas além do alcance de homens comuns é a previsão. Ora, essa previsão não pode ser extraída da coragem; nem também por indução decorrente da experiência, nem por qualquer cálculo realizado.
O conhecimento das disposições do inimigo só pode ser conseguido de outros homens. O conhecimento do espírito do mundo tem de ser obtido por adivinhação; a informação sobre a ciência natural deve ser procurada pelo raciocínio intuitivo; as leis do universo podem ser comprovadas pelo cálculo matemático; mas, as disposições do inimigo só são averiguadas por espiões e apenas por eles.
Daí o emprego de espiões, que se dividem em cinco tipos: espiões locais; espiões internos; espiões convertidos; espiões condenados; espiões sobreviventes.
Quando esses cinco tipos estão todos agindo, ninguém pode descobrir o sistema secreto. Chama-se a isso “a manipulação divina dos fios”. É a  faculdade mais preciosa de um soberano.
Ter espiões locais significa empregar os serviços de habitantes de um distrito. Em país inimigo, conquistam-se as pessoas com bom tratamento, empregando-as como espiãs.
Ter espiões internos significa usar os funcionários do inimigo. Homens direitos que foram rebaixados no emprego; criminosos que sofreram penas; também concubinas favoritas, gananciosas de ouro; homens ofendidos por estarem em posições subalternas ou preteridos na distribuição de cargos; outros ansiosos para que seu lado seja derrotado e, assim, possam ter uma oportunidade de exibir sua capacidade e talento, volúveis vira-casacas que sempre estão em cima do muro. Funcionários dessas várias espécies devem ser abordados secretamente e atraídos pela concessão de presentes caros. Para isso, devemos ser capazes de descobrir a situação dos negócios no país inimigo, averiguar os planos preparados contra nós e, ainda mais, perturbar a harmonia e criar uma separação entre o soberano e seus ministros. Porém, há necessidade de extrema cautela ao lidar com espiões internos.
Ter espiões convertidos quer dizer apoderar-se de espiões do inimigo e empregá-los para nossos próprios fins; Fazendo grandes subornos e promessas liberais, nós os afastamos do serviço do inimigo e os induzimos a fornecer-lhe informações falsas e, ao mesmo tempo, espionar seus compatriotas.
Ter espiões condenados significa fazer certas coisas às claras, com o objetivo de enganar e permitir aos nossos próprios espiões tomar conhecimento e, quando traírem, comunicarem o que sabem ao inimigo. Faremos coisas calculadas para enganar nossos próprios espiões, que devem ser levados a acreditar que foram reveladas inconscientemente. Então, quando esses espiões tiverem sido capturados por trás das linhas inimigas, farão um relatório totalmente falso, levando o inimigo a tomar medidas adequadas, apenas para chegar à conclusão de que fizemos uma coisa muito diferente. Os espiões, por causa disso, serão mortos.
Finalmente, espiões sobreviventes são os que trazem notícias do acampamento inimigo. Esta é uma espécie comum de espiões, que devem constituir parte regular do exército. Seu espião sobrevivente deve ser um indivíduo de grande sagacidade, embora no aspecto pareça bobo; externamente desprezível, mas, com uma vontade de ferro. Deve ser ágil, robusto, dotado de força física e coragem, inteiramente acostumado a toda espécie de trabalho sujo, capaz de suportar fome, frio e conspirar com a vergonha e a ignomínia.
Jamais haverá em todo exército relações mais íntimas que as mantidas com os espiões. Nenhuma outra relação deverá ser mais liberalmente recompensada. Em nenhuma outra deverá haver maior segredo.
Os espiões não podem ser empregados utilmente sem um certo grau de sagacidade intuitiva. Antes de empregar espiões, devemos ter certeza de sua integridade de caráter e do tamanho de sua experiência e habilidade. Um rosto atrevido e uma disposição ladina são mais perigosos que montanhas ou rios; é preciso ser gênio para penetrar em ambos.
Eles não podem ser adequadamente usados sem benevolência e franqueza.
Sem uma sutil engenhosidade mental não se pode ter certeza da autenticidade dos seus relatórios.
Seja sutil ! Seja sutil! E empregue seus espiões em toda a espécie de atividade.
Se uma notícia secreta é divulgada por um espião antes da hora, ele deve ser morto junto com quem recebeu a notícia.
Se o objetivo for esmagar um exército, agitar uma cidade ou assassinar alguém, será sempre necessário descobrir os nomes dos assessores, ajudantes-de-campo, porteiro e sentinelas do comandante-em-chefe. Nossos espiões devem ser empregados nessa tarefa.
O espião do inimigo que chegar até nós deve ser descoberto, tentado com suborno, deixado livre e confortavelmente abrigado. Assim, se tornará um espião convertido e à nossa disposição.
É por meio da informação trazida pelo espião convertido que somos capazes de conseguir e empregar espiões locais e internos. Devemos atrair o espião convertido para o nosso serviço, porque é ele quem sabe quais os habitantes locais gananciosos e quais os funcionários sensíveis à corrupção.
É graças à sua informação, ainda, que podemos fazer o espião condenado levar informações falsas ao inimigo.
Finalmente, é graças à sua informação que o espião sobrevivente pode ser empregado em determinadas ocasiões.
A finalidade e a intenção de espionar em todas as cinco variedades é o conhecimento do inimigo; e esse conhecimento só pode advir, em primeira instância, do espião convertido.
Não só ele, pessoalmente, fornece a informação, como torna possível usar as outras espécies de espiões com vantagem. Portanto, é essencial que o espião convertido seja tratado com a máxima liberalidade.
Na antiguidade, o surgimento da dinastia Yin deveu-se a I Chi, que serviu sob a Hsia. Da mesma forma, o nascimento da dinastia Chou foi possível graças a Lu Ya, que serviu sob o Yin.
Dessa maneira, apenas o governante esclarecido e o general criterioso usarão as mais dotadas inteligências do exército para a espionagem, obtendo, dessa forma, grandes resultados.
Os espiões são os elementos mais importantes de uma guerra, porque neles repousa a capacidade de movimentação de um exército”.

A clareza do texto antigo do general chinês Sun Tzu dispensa explicações senão um comentário para adaptar suas recomendações a contemporaneidade: O sistema de Inteligência idealizado pelo general chinês da antiguidade era uma rede de espionagem que servia para fins militares e está baseado exclusivamente em Inteligência humana (HUMINT) ou fontes humanas de Inteligência, afinal, na época de Sun Tzu não havia rádio, satélite, televisão nem Internet.
No mundo contemporâneo da Era da Informação, apesar da existência e proliferação das fontes eletrônicas como a Open Source Intelligence (OSINT) ou fontes abertas de inteligência, Imagery Intelligence (IMINT) ou inteligência de imagens, Signals Intelligence (SIGINT) ou inteligência de sinais e sua variante Communications Intelligence (COMINT) ou inteligência de comunicações, as pessoas ainda são indispensáveis a um bom trabalho de Inteligência.

Fonte: MONTALVÃO, Marcelo de; INTELIGÊNCIA & INDÚSTRIA: Espionagem e Contraespionagem Corporativa - Capítulo 02 - 2015.

Para adquirir o eBook acesse