Snowden será capa da revista Wired de setembro, em uma longa reportagem intitulada "The Most Wanted Man in the World" ("O Homem Mais Procurado em todo o Mundo", na tradução livre) - e também em uma das melhores entrevistas já feitas com o delator do esquema de espionagem dos EUA.
Na verdade, não foi exatamente uma entrevista, mas sim uma conversa com ninguém menos que James Bamford, um dos jornalistas que ficaram conhecidos por divulgar os primeiros relatos de vigilância e monitoramento da agência.
Bamford havia tentado marcar um encontro com Snowden em Berlim, Nova York e até no Rio de Janeiro, mas viajou só agora para Moscou, na Rússia, onde o ex-agente ficará asilado por mais três anos. Durante três dias inteiros, os dois discutiram vários assuntos, entre eles a rotina quase secreta de Snowden na capital russa e de um poderoso programa da NSA capaz de eliminar ameaças como malwares automaticamente, como estratégia de ciberdefesa. Separamos os principais pontos do bate-papo entre Snowden e Bamford.
Snowden aparenta ser um estudante de faculdade
Nas palavras de Bamford, Snowden, que está prestes a completar 31 anos de idade, é descrito da seguinte maneira: "Ao entrar no quarto, ele [Snowden] joga sua mochila na cama, ao lado de seu boné de beisebol e um par de óculos escuros. Ele parece magro, quase raquítico, com um rosto estreito e a leve sombra de um cavanhaque, como se tivesse crescido ontem. Ele tem sua marca registrada - óculos Burberry com lentes retangulares. Sua camisa azul pálido parece ser pelo menos um tamanho maior do que seu número normal, o cinto é bem apertado e ele usa um par de sapatos de bico preto da Calvin Klein. No geral, ele tem a aparência de um estudante do primeiro ano de graduação".
Snowden revelou a espionagem da NSA por causa do chefe da agência
Muita gente ainda se pergunta o que teria motivado Edward Snowden a divulgar os inúmeros documentos que comprovam um gigantesco esquema de vigilância online controlado pela NSA. Snowden comentou em entrevistas anteriores suas razões, e novamente as reforçou para James Bamford: o depoimento desonesto do diretor de inteligência da entidade, James Clapper, que disse ao Senado americano em março de 2013 que a agência coleta informações de milhões de cidadãos de forma "não-consciente".
"Eu acho que estava lendo algo no jornal no dia seguinte, conversando com colegas de trabalho sobre aquilo, dizendo 'dá para acreditar nisso?", comentou. Foi a partir daí que Snowden resolveu contar ao mundo o que acontecia nos bastidores da NSA, mas que preferiu guardar essas informações até a eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos por acreditar que seu governo mudaria as ações praticadas pela agência. Como isso não aconteceu, meses depois Snowden contou os segredos da entidade.
Ao ser reconhecido pelos russos, Snowden diz "shh" para eles
Na última semana, Edward Snowden conseguiu estender seu asilo político na Rússia até 2017, quando ele e
seu advogado esperam ampliar esse período para garantir ao americano cidadania russa - ele precisa passar cinco anos morando e trabalhando no país para isso. Como toda pessoa normal, Snowden às vezes precisa sair de casa para ir ao supermercado ou dar uma volta pelas ruas de Moscou. E é claro que algumas pessoas o reconhecem, tamanha foi sua visibilidade logo depois das denúncias sobre a NSA.
Toda vez que alguém sabe que aquele é Edward Snowden - não se sabe se ele sai disfarçado ou como Snowden mesmo -, ele afirma que tem uma maneira peculiar de responder: ele coloca seu dedo nos lábios e diz "shh", como se pedisse que a pessoa guardasse segredo. Ele ainda troca algumas palavras, revela sua identidade, sorri e vai embora, como se nada tivesse acontecido. Atualmente, Snowden vive em um lugar que nem mesmo seus parentes ou amigos mais próximos sabem onde fica.
A NSA está criando um programa que elimina malwares automaticamente
Snowden já havia divulgado alguns programas usados pela agência americana para espionar milhões de pessoas em todo o mundo - o mais famoso deles é o PRISM, que teria sido usado por várias empresas de tecnologia para ajudar a entidade a coletar informações dos usuários. Só que o governo também planeja se proteger de possíveis ataques e ameaças virtuais. Para isso, o ex-técnico alega que o órgão de inteligência está desenvolvendo um software que acaba com malwares de forma instantânea, antes mesmo de infectarem as máquinas, e sem a necessidade de humanos para ser ativado.
O tal programa se chama MonsterMind. De acordo com Snowden, ele escaneia os dados da web para identificar sinais de potenciais ataques em progresso e, uma vez detectada a ameaça, o software pode bloqueá-la ou eliminá-la por completo. Snowden afirma que o objetivo da NSA com esse programa é parar efetivamente qualquer tráfego considerado malicioso pela agência, independente de sua origem (nacional ou estrangeira). Não se sabe quando o projeto será de fato implantado pela entidade.
Snowden acredita que o MonsterMind representa "a maior ameaça à privacidade" e poderia "acidentalmente iniciar uma guerra", já que, para que o sistema funcione, a NSA teria que primeiro ter (secretamente) acesso ao banco de dados de quase todas as comunicações privadas dentro e fora dos EUA. "Você poderia ter alguém na China tentando simular que um ataque é originário da Rússia. Ou seja, vamos acabar jogando a culpa em [por exemplo] um hospital russo. O que acontece a seguir?", questiona.
A NSA foi responsável pelo blackout da internet na Síria em 2012
Em 29 de novembro de 2012, a Síria, que estava em plena guerra civil, teve seu acesso à internet bloqueado, e todos os 84 blocos de endereços de IP referentes ao país ficaram inacessíveis por dois dias. Na época, a suspeita era de que terroristas e rebeldes contra o presidente Bashar al-Assad teriam causado o apagão, mas segundo Snowden, que na época ainda trabalhava para o governo norte-americano, a culpa foi da NSA.
O ex-técnico diz que hackers de elite da agência invadiram um dos roteadores centrais de uma operadora da Síria para tentar instalar um malware. O objetivo era obter acesso total aos dados sobre o tráfego de internet - especialmente os serviços de e-mail -, em meio à guerra que acontecia no país. Só que o plano deu errado e o ataque acabou inutilizando o roteador e deixou o país inteiro sem internet. Depois do ocorrido, a NSA teria tentado reparar o dano e apagar os traços de sua ação, mas não conseguiu. Meses depois, em maio de 2013, a Síria saiu do ar novamente, mas não se sabe se por autoria da NSA.
A NSA acredita que Snowden teve acesso a 1,7 milhão de documentos secretos
Apesar de não ter todos os arquivos em mãos, Snowden acredita que a NSA acha que ele visualizou 1,7 milhão de documentos da agência americana. Ele especula que o governo acredita que todo o material roubado (e visualizado) contém segredos "profundamente prejudiciais" que ainda não foram divulgados ao público. "Eu acho que eles acham que há alguma coisa lá dentro que significaria a morte política deles. O fato das investigações governamentais terem falhado - eles não sabem o que foi pego e continuam jogando esses números ridiculamente grandes - significa para mim que, em algum momento na avaliação de danos, eles devem ter visto algo e pensaram "p*** m****". E eles acham que isso ainda vai vazar", disse.
Fonte: http://canaltech.com.br/noticia/personalidades/Homem-mais-procurado-do-mundo-Snowden-diz-que-o-pior-da-NSA-ainda-esta-por-vir/#ixzz3AOaQSkVE
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