quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Espionagem na BRF Foods poderia ser evitada com recursos humanos preventivos?






Foi inovadora a reportagem do Jornal da Band de 30 de setembro de 2015 sobre a invasão de uma das sedes da BRF Foods em São Paulo – SP, com imagens do espião corporativo, no momento da identificação de acesso e intrusão no edifício sede para furto de informação privilegiada contida em notebooks do departamento de marketing da corporação.

O Alvo de busca possivelmente eram os planos de marketing da companhia.

Casos de espionagem industrial são muito comuns no Brasil, apenas não são divulgados. A última que chamou a atenção foi a do furto de laptops com informações sigilosas da Petrobras que estavam em um contêiner do terminal portuário Bric Log em 2008.

A matéria recente sobre a BRF Foods revelou mais um caso de espionagem industrial, porém, com o ineditismo de mostrar imagens do espião e de sua ação de busca.

Muitos que assistiram a reportagem podem ter pensado como a segurança do edifício pode ter falhado em permitir a entrada de elemento com identidade falsa e não suspeitar que indicou um andar para seguir a outro ou porque os corredores e salas da BRF Foods estavam vazios e desprotegidos “no horário de almoço”?

A espionagem corporativa é termo mais abrangente que engloba tanto espionagem por concorrentes em uma mesma indústria quanto por Estados nacionais em corporações sem intenção de lucro mas que podem contar dados estratégicos secretos acerca das indústrias como agências reguladoras, sindicatos agências de Inteligência econômica, de mercado (marketing) etc.

Evidentemente, o departamento de Inteligência Empresarial da BRF Foods falhou em aspectos do presente como, por exemplo, permitir que todos dos funcionários deixem as dependências da corporação com informações confidenciais em salas abertas, vazias e desocupadas. Ou fecha a porta ou mantém ao menos um funcionário mais antigo no local.

Mas, o setor de Inteligência Empresarial da BRF Foods, mais especificamente a Contraespionagem Corporativa, falhou mais em aspectos do passado, pois deixou de executar briefings básicos de Segurança da Informação. Vejamos:

1)      As imagens não deixam dúvidas que a ação de busca foi muito bem planejada e executada;
2)      A execução não poderia ter sido realizada por um único Ator (pessoa ou organização), o intruso muito provavelmente se valeu de informações privilegiadas acerca do local exato e melhor momento de ação repassadas por colaborador interno da companhia;
3)      Intruso não é um ladrão comum – provavelmente tem treinamento militar – e é possível que tenha deixado o País “até a poeira baixar”;
4)      Laptops com os arquivos importantes podem ter sido entregues à outra pessoa, imediatamente após a extrusão do edifício, tática conhecida até de pivetes para escapar do “flagrante”, fato que câmeras do circuito externo de vigilância e da vizinhança podem confirmar;
5)      Ações de espionagem contra a BRF Foods podem ter partido tanto de empresas concorrentes quanto de Estados nacionais adversos em ações integradas contra todas as empresas do setor de alimentos preocupados com tendências ou rumos da indústria e da oferta de alimentos;    

Mas porque as recentes ações de espionagem contra a BRF Foods revelaram falhas anteriores a data do fato, ao momento da ação de coleta em espionagem corporativa?

Primeiramente, porque a BRF Foods sabia que estava sendo monitorada de forma ilegal e antiética pelos próprios funcionários, em quem recaiam suspeitas de espionagem para a concorrente JBS, ao menos foi o que alertou o Blog do Madia, do consultor de marketing – essa palavra novamente! – Francisco Alberto Madia de Souza.

Em 7 de maio de 2015, Madia revelou em seu Blog que “Na página 22 da EXAME que chega às bancas hoje, 7 de maio de 2015, uma denúncia implícita de espionagem criminosa da BRF. Claro, contra a JBS. Diz a nota, “Na tarde de 22 de abril, os funcionários da sede da BRF, em São Paulo, foram convocados de surpresa para uma reunião. Antes de entrar na sala foram obrigados a abandonar o celular e o computador numa mesa. O motivo? A suspeita de que havia um espião da JBS entre eles…”. E por aí segue a história. Num determinado momento da reunião a declaração de guerra, “Ou o traidor pede demissão até o final do mês ou então chamaremos a polícia”. Segundo a matéria, desde o fatídico dia 22 de abril já forma demitidos pelo menos seis funcionários que de comum tinham algum parentesco com funcionários que trabalhavam na JBS… Nota técnica: hoje, mais de 100 ex-funcionários da BRF trabalham na JBS. Previsão de mais encrencas pela frente”.

A revelação da Revista Exame – ou do consultor de marketing Francisco Alberto Madia de Souza – acerca da fraude interna na BRF Foods, com fortes indícios de espionagem corporativa, com suspeita sobre a JBS, data de poucos meses antes da intrusão e furto de informação privilegiada objeto da reportagem da Bandeirantes.

A reportagem demontra que a BRF Foods partiu para o contra-ataque com ações psico-informativas, midiáticas. 

Esses fatos podem ter conexão com questões políticas, já que a BRF Foods é controladora da marca Friboi, alvo da boataria de que teria como acionista o filho do ex-presidente Lula do PT por meio da empresa offshore Blessed Holding, do Estado de Delaware (EUA), paraíso fiscal estadunidense que tem como sócias a U.S. Commonwealth Life de Porto Rico, mas, com dados de seus sistemas informatizados em Guernsey, ilha do Canal da Mancha também considerada paraíso fiscal, e a Lighthouse Capital Insurance Company das Ilhas Cayman, que tem site idêntico e também mantém ativos intangíveis em Guernsey. Ambas as seguradoras tem como principal acionista De direito o ex-private bank do HSBC Bermuda Bank, Colin Murdoch-Muirhead. Pouca transparência.

As matérias e episódios delas objeto servem de alerta antecipado acerca da principal falha da Segurança da Informação da maioria das empresas do Brasil: A falta de investimento em pesquisa de antecedentes criminais, em recursos humanos preventivos, denominados pelas empresas de Inteligência de background checks.

Povos latinos têm tradição em reação, ao invés da prevenção. É o famoso “só tranca a porta depois da casa ser invadida”.

Exemplo clássico desse cultura e modelo mental (mentalidade) reativa e não preventiva é o fato de nós, brasileiros, realizarmos muito pouco due diligences investigativas de fornecedores e quase nenhuma pesquisa de antecedentes criminais ou confirmação de antecedentes profissionais dos canditados às vagas de emprego nas companhias.

O resultado dessa omissão por absoluta falta de conhecimento acerca das vantagens econômicas de pesquisas pré-contratuais são “enxurradas” de ações judiciais de rescisão de contratos de forencedores, indenização por fraudes e má-prestação dos serviços e reclamações trabalhistas desonestas conhecidas como fraude judiciária. 

Contraespionagem corporativa são ações de monitoramos de adversários e concorrentes para neutralizar eventuais ações adversas como a captação da clientela, recrutamento de funcionários-chave, imitação de produtos e serviços, acesso não autorizado à informação estratégica da companhia ou mesmo sabotagem.

É a proteção dos ativos intangíveis da companhia com ações de Contrainteligência. A organização precisa identificar ameaças e vulnerabilidades e falhas da contratação com serviços de Inteligência para a diminuição de “vazamentos”, melhorar a reputação e a imagem corporativa no ambiente real e virtual e até para diminuir a capacidade dos adversários de identificar intenção, planos e estratégias da corporação.

O invasor da BRF Foods com certeza recebeu ajuda interna corporis e, nem sua prisão e identificação pela polícia, com os direitos constitucionais e previsão penal branda para casos de concorrência desleal no Brasil, seria garantia de descobrimento do Ator econômico ou político autor do plano de intrusão e roubo de segredos comerciais da companhia.

Marcelo de Montalvão é diretor da Montax, empresa de Inteligência, Busca de Ativos e Investigações corporativas.

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