Foi inovadora a reportagem do Jornal da Band de 30 de
setembro de 2015 sobre a invasão de uma das sedes da BRF Foods em São Paulo –
SP, com imagens do espião corporativo, no momento da identificação de acesso e
intrusão no edifício sede para furto de informação privilegiada contida em
notebooks do departamento de marketing da corporação.
O Alvo de busca possivelmente eram os planos de
marketing da companhia.
Casos de espionagem industrial são muito comuns no
Brasil, apenas não são divulgados. A última que chamou a atenção foi a do furto
de laptops com informações sigilosas da Petrobras que estavam em um contêiner
do terminal portuário Bric Log em 2008.
A matéria recente sobre a BRF Foods revelou mais um caso
de espionagem industrial, porém, com o ineditismo de mostrar imagens do espião
e de sua ação de busca.
Muitos que assistiram a reportagem podem ter pensado como
a segurança do edifício pode ter falhado em permitir a entrada de elemento com
identidade falsa e não suspeitar que indicou um andar para seguir a outro ou
porque os corredores e salas da BRF Foods estavam vazios e desprotegidos “no
horário de almoço”?
A espionagem corporativa é termo mais abrangente que
engloba tanto espionagem por concorrentes em uma mesma indústria quanto por
Estados nacionais em corporações sem intenção de lucro mas que podem contar
dados estratégicos secretos acerca das indústrias como agências reguladoras,
sindicatos agências de Inteligência econômica, de mercado (marketing) etc.
Evidentemente, o departamento de Inteligência Empresarial
da BRF Foods falhou em aspectos do presente como, por exemplo, permitir
que todos dos funcionários deixem as dependências da corporação com informações
confidenciais em salas abertas, vazias e desocupadas. Ou fecha a porta ou
mantém ao menos um funcionário mais antigo no local.
Mas, o setor de Inteligência Empresarial da BRF Foods,
mais especificamente a Contraespionagem Corporativa, falhou mais em aspectos do
passado, pois deixou de executar briefings básicos de Segurança
da Informação. Vejamos:
1)
As imagens não
deixam dúvidas que a ação de busca foi muito bem planejada e executada;
2)
A execução não
poderia ter sido realizada por um único Ator (pessoa ou organização), o intruso
muito provavelmente se valeu de informações privilegiadas acerca do local exato
e melhor momento de ação repassadas por colaborador interno da companhia;
3)
Intruso não é um
ladrão comum – provavelmente tem treinamento militar – e é possível que tenha
deixado o País “até a poeira baixar”;
4)
Laptops com os
arquivos importantes podem ter sido entregues à outra pessoa, imediatamente
após a extrusão do edifício, tática conhecida até de pivetes para escapar do
“flagrante”, fato que câmeras do circuito externo de vigilância e da vizinhança
podem confirmar;
5)
Ações de espionagem
contra a BRF Foods podem ter partido tanto de empresas concorrentes quanto de
Estados nacionais adversos em ações integradas contra todas as empresas do
setor de alimentos preocupados com tendências ou rumos da indústria e da oferta
de alimentos;
Mas porque as recentes ações de espionagem contra a BRF
Foods revelaram falhas anteriores a data do fato, ao momento da ação de coleta
em espionagem corporativa?
Primeiramente, porque a BRF Foods sabia que estava sendo
monitorada de forma ilegal e antiética pelos próprios funcionários, em quem
recaiam suspeitas de espionagem para a concorrente JBS, ao menos foi o que
alertou o Blog do Madia, do consultor de marketing – essa palavra novamente! –
Francisco Alberto Madia de Souza.
Em 7 de maio de 2015, Madia revelou em seu Blog que “Na
página 22 da EXAME que chega às bancas hoje, 7 de maio de 2015, uma denúncia
implícita de espionagem criminosa da BRF. Claro, contra a JBS. Diz a nota, “Na
tarde de 22 de abril, os funcionários da sede da BRF, em São Paulo, foram
convocados de surpresa para uma reunião. Antes de entrar na sala foram
obrigados a abandonar o celular e o computador numa mesa. O motivo? A suspeita
de que havia um espião da JBS entre eles…”. E por aí segue a história. Num
determinado momento da reunião a declaração de guerra, “Ou o traidor pede
demissão até o final do mês ou então chamaremos a polícia”. Segundo a matéria,
desde o fatídico dia 22 de abril já forma demitidos pelo menos seis
funcionários que de comum tinham algum parentesco com funcionários que
trabalhavam na JBS… Nota técnica: hoje, mais de 100 ex-funcionários da BRF
trabalham na JBS. Previsão de mais encrencas pela frente”.
A revelação da Revista Exame – ou do consultor de
marketing Francisco Alberto Madia de Souza – acerca da fraude interna na BRF
Foods, com fortes indícios de espionagem corporativa, com suspeita sobre a JBS,
data de poucos meses antes da intrusão e furto de informação privilegiada
objeto da reportagem da Bandeirantes.
A reportagem demontra que a BRF Foods partiu para o
contra-ataque com ações psico-informativas, midiáticas.
Esses fatos podem ter conexão com questões políticas, já
que a BRF Foods é controladora da marca Friboi, alvo da boataria de que teria
como acionista o filho do ex-presidente Lula do PT por meio da empresa offshore
Blessed Holding, do Estado de Delaware (EUA), paraíso fiscal estadunidense que
tem como sócias a U.S. Commonwealth Life de Porto Rico, mas, com dados de seus
sistemas informatizados em Guernsey, ilha do Canal da Mancha também considerada
paraíso fiscal, e a Lighthouse Capital Insurance Company das Ilhas Cayman, que
tem site idêntico e também mantém ativos intangíveis em Guernsey. Ambas as seguradoras
tem como principal acionista De direito o ex-private bank do HSBC
Bermuda Bank, Colin Murdoch-Muirhead. Pouca transparência.
As matérias e episódios delas objeto servem de alerta
antecipado acerca da principal falha da Segurança da Informação da maioria das
empresas do Brasil: A falta de investimento em pesquisa de antecedentes
criminais, em recursos humanos preventivos, denominados pelas empresas de
Inteligência de background
checks.
Povos latinos
têm tradição em reação, ao invés da prevenção. É o famoso “só tranca a porta
depois da casa ser invadida”.
Exemplo
clássico desse cultura e modelo mental (mentalidade) reativa e não preventiva é
o fato de nós, brasileiros, realizarmos muito pouco due diligences
investigativas de fornecedores e quase nenhuma pesquisa de antecedentes
criminais ou confirmação de antecedentes profissionais dos canditados às vagas
de emprego nas companhias.
O resultado
dessa omissão por absoluta falta de conhecimento acerca das vantagens
econômicas de pesquisas pré-contratuais são “enxurradas” de ações judiciais de
rescisão de contratos de forencedores, indenização por fraudes e má-prestação
dos serviços e reclamações trabalhistas desonestas conhecidas como fraude
judiciária.
Contraespionagem corporativa são ações de monitoramos de
adversários e concorrentes para neutralizar eventuais ações adversas como a
captação da clientela, recrutamento de funcionários-chave, imitação de produtos
e serviços, acesso não autorizado à informação estratégica da companhia ou
mesmo sabotagem.
É a proteção dos ativos intangíveis da companhia com
ações de Contrainteligência. A organização precisa identificar ameaças e
vulnerabilidades e falhas da contratação com serviços de Inteligência para a
diminuição de “vazamentos”, melhorar a reputação e a imagem corporativa no
ambiente real e virtual e até para diminuir a capacidade dos adversários de
identificar intenção, planos e estratégias da corporação.
O invasor da BRF Foods
com certeza recebeu ajuda interna corporis e, nem sua prisão e identificação
pela polícia, com os direitos constitucionais e previsão penal branda para
casos de concorrência desleal no Brasil, seria garantia de descobrimento do
Ator econômico ou político autor do plano de intrusão e roubo de segredos
comerciais da companhia.
Marcelo de Montalvão é diretor da Montax, empresa
de Inteligência, Busca de Ativos e Investigações corporativas.