sexta-feira, 27 de março de 2015

Analistas de inteligência de CIA e FBI ganham mais poder dentro das organizações

 

Chame de vingança dos nerds, ao estilo de Washington. O agente do FBI empunhando arma e o aventureiro agente secreto da CIA estão cada vez mais sendo requisitados a compartilhar seu poder, orçamento e até mesmo seu glamour em Hollywood com o humilde analista de inteligência preso a uma mesa.
À medida que as duas agências confrontam uma ameaça terrorista em constante evolução, ciberataques e outros desafios, ambas estão se reorganizando de formas que visam empoderar os analistas. Isso envolve o trabalho delicado de unir as culturas muito diferentes do agente com a malandragem das ruas e do analista cerebral, que lê despachos secretos, se debruça sobre comunicações interceptadas, absorve contas da mídia de notícias e digere tudo.
O maior desafio permanece no FBI, uma organização tradicional de manutenção da lei que tem tido dificuldades, desde os ataques terroristas de 2001, para se remodelar em uma agência de inteligência capaz de prevenir ataques e não apenas investigar crimes. Um relatório sobre o progresso do FBI, divulgado na quarta-feira, concluiu que apesar dos grandes avanços, o órgão precisa aumentar o papel dos analistas e lhes dedicar mais respeito e recursos.
Apesar das autoridades do órgão há muito exortarem a importância dos analistas de inteligência, o relatório pela Comissão de Análise do Papel do FBI no 11 de Setembro descobriu que a polícia federal dos EUA “ainda não os reconhece de modo suficiente como uma força de trabalho profissionalizada, com exigências distintas de investimento em treinamento e educação”. O diretor do FBI, James B. Comey, reconheceu o problema e disse que empoderar os analistas era uma de suas principais metas.
Na CIA, onde analistas têm um papel central desde sua fundação, eles há muito trabalhavam em grande parte separados dos “operativos”, que trabalham em campo no exterior recrutando agentes. Neste mês, John O. Brennan, o diretor da CIA, anunciou que analistas e operativos seriam combinados em 10 novos “centros de missão”, seguindo o modelo do Centro de Contraterrorismo da agência. Isso pode dar aos analistas maior influência no dia a dia nas operações.
As decisões mais recentes continuam na constante ampliação do papel dos analistas de inteligência. Até mesmo a cultura popular acompanha, com os analistas se tornando astros de filmes e séries de televisão recentes.
Em “A Hora Mais Escura”, o filme de 2012 que narra a caçada a Osama Bin Laden, a personagem central é uma analista da CIA chamada Maya, interpretada por Jessica Chastain. Diante dos musculosos e altamente armados membros dos SEALs da Marinha, que estão prestes a realizar uma incursão no Paquistão, a pequena Maya não é apenas um enfeite.
“Bin Laden está lá” ela diz com confiança aos SEALs. “E vocês vão matá-lo para mim.”
O fracasso em impedir os ataques do 11 de Setembro e o foco subsequente nas ameaças terroristas ajudaram e elevar o status dos analistas. O Centro Nacional de Contraterrorismo –que não deve ser confundido com o Centro de Contraterrorismo da CIA– foi criado depois do 11 de Setembro como um centro de análise para assegurar que cada fragmento de informação de ameaça seja combinado com outros dados para detectar tramas.
Outro fator é a explosão de dados em uma era de smartphones e internet, como ressaltaram os documentos da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) vazados por Edward J. Snowden. Apesar da NSA sempre ter sido uma operação movida por dados, outras agências agora precisam de seu próprio pessoal capacitado para ordenar e entender a enxurrada de informação, sem serem sobrecarregados por ela.
“Atualmente, quando há um lapso de inteligência, geralmente se deve a informação crucial ter sido perdida na avalanche de dados”, disse John E. McLaughlin, um ex-vice-diretor e diretor em exercício da CIA.
Ele disse que apesar dos analistas sempre terem sido valiosos na agência, eles ficaram por muito tempo segregados no Diretório de Inteligência, separados do Diretório de Operações, que realizava a espionagem. Por muitos anos, uma catraca e um posto de segurança no quartel-general da CIA, em Langley, Virgínia, separava os analistas dos agentes, ele disse.
Um analista de carreira, McLaughlin disse que alguns veteranos de operações “podem se sentir desconfortáveis” com a reorganização que os agrupará com os analistas, mas que ela faz sentido. “O papel do analista, que reune todas as peças, se tornou mais crítico, porque agora há mais peças”, ele disse.
Comey, o diretor do FBI, usou a analogia de um casamento arranjado para descrever o relacionamento entre agentes e analistas, que com frequência eram unidos, sem poderem opinar a respeito. Às vezes casamentos arranjados acabam com os casais vivendo felizes para sempre. Outras vezes, eles acabam dormindo em camas separadas.
Para desenvolver um melhor relacionamento, Comey está tentando fazer com que agentes e analistas “namorem” na Academia do FBI, onde agora é exigido que eles treinem e pratiquem trabalhar juntos. Comey disse que sua esperança é de que um analista de inteligência de carreira ascenda até os postos mais altos do FBI antes que se aposente.
Algumas pessoas que estudam inteligência e contraterrorismo juntos estão preocupadas que o pêndulo possa balançar longe demais. Os analistas de inteligência, disse Amy Zegart, uma acadêmica de Stanford que estuda inteligência, podem ficar absortos demais nas operações diárias e negligenciar o pensamento estratégico a respeito de ameaças que podem ocorrer daqui a anos.
Na CIA, ela disse, os analistas de contraterrorismo são “táticos demais”, focados no próximo alvo dos drones. Se o mesmo modelo for aplicado agora ao restante do trabalho da agência, outros analistas podem ser pegos pelas exigências de curto prazo, ela disse.
“Quem no governo americano pensará a respeito das ameaças a longo prazo?” ela perguntou. (Matt Apuzzo e Michael S. Schmidt contribuíram com a reportagem)
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Fonte: bol.com.br

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